Foi lançado nos cinemas no dia 26 de janeiro, o longa “A Última Festa”. Escrito e dirigido por Matheus Souza, o filme conta a história de quatro amigos que estão em sua festa de formatura do ensino médio, que eles julgam ser a última antes de entrarem na vida adulta. Essa festa é tida como um símbolo de renovação, de transformação, ao mesmo tempo em que é o encerramento de ciclo. Durante a noite, eles vão caindo na real sobre o mundo que estão prestes a entrar e sobre as consequências que isso traz, colocando em cheque até mesmo a amizade dos quatro.
Matheus considera o filme o encerramento de uma trilogia iniciada com “Ana e Vitória” (2018) e sucedida por “Me sinto bem com você” (2021). Os três filmes têm realmente uma energia parecida, com a balança da comédia romântica pesando muito mais para o lado romântico que para o lado cômico. As cenas engraçadas dos filmes podem ser somadas e contadas em uma única mão. Encará-los como comédia romântica, pode gerar frustração. Uma marca forte do autor é que são filmes muito próximos do romance literário. Aliás, este, em particular, talvez funcionasse muito mais em forma de literatura, que de cinema. Me interessaria muito mais em ler esta história, que em assisti-la. Em relação à qualidade, “A última festa” fica no meio da trilogia. “Ana Vitória” segue sendo o de maior destaque. O lançamento de 2023 é um filme legal, apenas. Nada de muito destaque.
Os quatro protagonistas são interpretados por Christian Malheiros, Thalita Meneghim, Marina Moschen e Giulia Gayoso. Dois deles possuem um aproveitamento positivo, enquanto outros dois ficam a margem, com histórias, situações e atuações menos interessantes e marcantes. Falaremos de cada um deles a seguir.
Entre os que não se destacaram muito, estão Christian Malheiros e Giulia Gayoso. Além de problemas com as histórias de seus personagens, os atores tiveram uma certa dificuldade com a dicção. Em muitas cenas simplesmente não era possível entender o que falavam porque, além de uma entonação estranha, também falavam muito rápido. Talvez um problema também de direção ou preparação de elenco, que poderiam se atentar mais a isso. A dificuldade fica ainda mais evidente quando ouvimos Thalita e Marina, um alívio para os ouvidos, com uma fluência clara nas falas.
O plot de Malheiros incomoda de maneira geral ao não acrescentar na história. O personagem se apresenta de maneira complexa, com uma definição interessante: “sou o único gay entre os alunos negros e o único negro entre os alunos gays“. Em outro trecho ele diz que se acha muito rico para um grupo de amigos e muito pobre para outro grupo, deixando claro o seu desconforto e o quanto ele não se encaixa bem em nenhuma situação. Mas o aprofundamento dele termina aí, apenas na descrição. Ele acaba entrando em um jogo desnecessário em que, para ficar com o bonitão do colégio precisa cumprir 10 metas e desafios durante a noite. Claramente, a intenção do plot é ser o momento engraçado do filme. Mas os desafios não são engraçados, não são interessantes, não ajudam a desenvolver em nada o personagem, não acrescentam no filme. Victor Meyniel está no plot como seu ajudante nos desafios e, já em sua segunda fala, o espectador decifra tudo o que irá acontecer com eles. E realmente acontece. O personagem de Meyniel é claramente apenas uma orelha do personagem de Malheiros: existe apenas para que o protagonista tenha com quem falar, já que suas amigas estão ocupadas em outras histórias.
A única cena bonita do personagem de Malheiros no filme é completamente desperdiçada no início da trama. Nos créditos iniciais vemos “participação especialíssima de Zezé Motta”, mas adianto que se você se empolgar com essa presença ilustre anunciada no elenco, irá se decepcionar bastante. A personagem de Zezé – mãe de Malheiros – tem DUAS frases no filme e ela sequer aparece em cena. Ouvimos apenas a sua (belíssima) voz por um áudio enviado ao filho. Um personagem e uma atuação mais madura, com a presença cênica de Zezé, só teria a acrescentar no longa.
Gayoso segue o clichê da personagem que pretende perder a virgindade antes de se formar e procura lugares na festa para isso. Aparentemente, mais uma tentativa de ser engraçado, que não foi bem sucedida. A inverossimilhança incomoda porque aqueles personagens claramente têm muito dinheiro. É a formatura de uma escola particular, em um local imenso, uma festa mega produzida, com certeza caríssima. Como eles não tinham dinheiro para irem para outro lugar? Tudo bem que eles devem ter dezessete anos e não poderiam entrar em um motel, mas não existe um amigo? Um outro local? Forçar aquelas situações como a última oportunidade até funcionaria por um tempo, mas durante o filme todo, fica cansativo. Se fosse algo “quero perder a virgindade na festa pois este momento é especial” talvez funcionasse mais que um simplesmente “preciso perder a virgindade aqui pois não temos mais outra opção”.
O conflito da personagem defendida por Marina Moschen começa interessante. Percebemos o início de uma paixão acontecendo. Mas incomoda no meio da festa em que ela reúne os quatro em um salão para fazer uma grande revelação – salão, aliás, completamente jogado, uma espécie de museu que não entendemos como aqueles personagens tiveram acesso aquilo. Mais um exemplo de locação belíssima, mas totalmente mal contextualizada. A personagem faz a tal revelação e fim. Eles conversam um pouco e voltam para a festa, com seu conflito romântico. Por que ela decidiu no meio da festa fazer essa revelação que nada tem a ver com o conflito pessoal da personagem mostrado durante a festa? No que isso impacta? Perde a força do segredo e perde a força do romance aleatório.
A melhor personagem é a de Meneghim, sendo o plot mais interessante de assistir, talvez por conseguir equilibrar as firulas rocambolescas do roteiro com o romance proposto pelo gênero. A história é simples, mas conecta. A atriz mostra química com Victor Lamoglia – ator presente em toda a trilogia.
Entre os pontos positivos do filme, a direção de arte se destaca. As locações foram em Portugal e trouxeram uma beleza interessante. A fotografia e a direção tem bons momentos, possuem quadros bonitos, mas pouco naturais. É nítido algumas cenas em que os atores caminham para uma marca de maneira não orgânica só para pararem em uma posição que fosse bonita para o filme. Uma direção e marcação de cena em função da fotografia, que não funcionou para ambas.
Resumindo: “A Última Festa” aposta em quatro histórias, mas só acerta em uma.