O cinema brasileiro ganha, com A Última Festa, o encerramento da trilogia de Matheus Souza, que começou com Ana e Vitória (2018) e seguiu com Me sinto bem com você (2021). O tom do diretor permanece reconhecível: filmes que se pretendem comédias românticas, mas pendem muito mais para o romance melancólico e próximo do universo literário. Raros são os momentos de verdadeiro humor, o que pode frustrar espectadores desavisados ou que esperem leveza maior do gênero. Para quem acompanha a trilogia, A Última Festa fica numa posição intermediária: menos marcante que Ana e Vitória, mais simpático que o antecessor, mas ainda sem grandes destaques.
Sinopse
Quatro amigos participam de sua festa de formatura do ensino médio, evento visto pelo grupo como a última celebração antes do ingresso na vida adulta. Ao longo da noite, marcada como um símbolo de renovação e encerramento de ciclo, os jovens enfrentam dúvidas, transformações e revelações que desafiam a amizade e alteram suas perspectivas sobre o futuro iminente.
A crítica
O elenco principal é composto por Christian Malheiros, Thalita Meneghim, Marina Moschen e Giulia Gayoso. Dois aproveitam melhor suas oportunidades, enquanto outros dois ficam à margem, com histórias e atuações menos convincentes. Dentre os que não conseguem se destacar, Malheiros e Gayoso sofrem tanto por roteiros fracos quanto por problemas de dicção. Os diálogos desses personagens, muitas vezes rápidos e de entonação estranha, se tornam difíceis de compreender, prejudicando ainda mais sua conexão com o público.
O arco do personagem de Malheiros demonstra potencial ao abordar questões de identidade (“sou o único gay entre os alunos negros e o único negro entre os alunos gays”), mas o aprofundamento para por aí. Em vez de desenvolver o conflito, o roteiro o coloca em uma sequência de desafios para conquistar o “bonitão” do colégio – nenhum deles engraçado ou relevante para a evolução do personagem. Victor Meyniel, que o acompanha, serve apenas de escada para as falas do protagonista, em um sub-enredo previsível do começo ao fim. Vale ressaltar ainda a presença de Zezé Motta – ou a falta dela. Anunciada nos créditos, a participação da atriz se resume a duas frases enviadas por áudio – uma oportunidade desperdiçada de agregar emoção ao filme.
Giulia Gayoso segue o clichê da personagem que quer perder a virgindade antes de se formar, mas a insistência e a inverossimilhança da situação (considerando o cenário de festa rica e personagens com poder aquisitivo elevado) cansam rapidamente.
Já Marina Moschen começa bem, sugerindo um início de romance, mas o núcleo se perde em uma revelação feita em um cenário (um salão-museu) mal contextualizado, sem impacto real nos conflitos da personagem ou no andamento da festa. Fica a sensação de capricho visual sem suporte narrativo.
A exceção positiva é o enredo de Thalita Meneghim, que equilibra romance e excentricidades do roteiro. Sua história é simples, mas conecta, e a atriz demonstra forte química com Victor Lamoglia, presença recorrente na filmografia de Souza.
O filme se destaca pela direção de arte e fotografia nos cenários portugueses, criando quadros bonitos – porém, por vezes, pouco naturais. É visível quando a movimentação dos atores se torna artificial, pensada mais para garantir o enquadramento perfeito do que para fluir organicamente com a história. A preocupação estética tira intensidade de algumas cenas, reforçando o tom literário, contemplativo, mas pouco envolvente.
Impressão final
A Última Festa aposta em quatro tramas, mas só se realiza verdadeiramente em uma. Visualmente agradável, entrega emoção pontual, mas tropeça em ritmo, articulação e relevância dramática.