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Série ou novela, “Pedaço de Mim” provou ser uma das melhores produções brasileiras da Netflix

Após muita expectativa, estreou na Netflix a série “Pedaço de Mim“, protagonizada por Juliana Paes, Vladimir Brichta e Felipe Abib.

Com 17 episódios, a trama já chamou a atenção desde que foi anunciada, no fim de 2022. Isso porque ela vinha sendo divulgada como a primeira novela da Netflix. A autora, Ângela Chaves, é conhecida por seus trabalhos na TV Globo onde escreveu as novelas “Os Dias Eram Assim” e “Éramos Seis“, ambas com uma ótima recepção, sobretudo, da crítica. O diretor Maurício Farias também veio da recente “Um Lugar ao Sol“, na faixa das 21h da emissora carioca. Os atores, sobretudo Juliana Paes, também firmaram as suas carreiras através das telenovelas. Completamente compreensível a expectativa que fora criada em cima da obra.

Mas logo a plataforma jogou um balde de água fria nos noveleiros. Não seria mais uma novela, mas sim “uma série de melodrama” (seja lá o que isso quisesse dizer). Fato é, “Pedaço de Mim” é uma novela. O melodrama e o folhetim (pais da telenovela) estão em seu gene. Ela é firmada em um conflito extremamente melodramático, independente do número de capítulos/episódios. Mas a plataforma – provavelmente por motivos comerciais – decidiu batizar a produção de série, então é assim que ela será classificada.

 

 

Deixando a discussão a respeito do gênero de lado, vamos ao conteúdo: A Netflix viu nascer uma de suas melhores produções brasileiras em se tratando de séries, talvez, desde “Coisa Mais Linda” (2019). A começar pelo roteiro. Sensível, Ângela nos entregou uma história comovente e interessante no sentido mais literal da palavra. As reviravoltas prendiam e faziam querer ver como tais desdobramentos atingiriam a família. Ainda que a história fosse centrada apenas em um núcleo pequeno de personagens, a trama não ficou maçante ou desinteressante. Alguns diálogos poderiam ser mais afinados, sendo um pouco óbvios ou redundantes, é verdade, mas isso não diminui a qualidade do roteiro, nem compromete a trama.

Interessante notar como o diretor incluiu alguns detalhes pensados para o streaming. Era divertido ver algumas cenas passando por enquadramentos verticais, nada comuns no cinema. Eram momentos raros, passagens, curiosidades permitidas pelo deslizamento de telas e interessantes de assistir pelo celular, por exemplo. Em geral, a direção não trouxe tantas outras novidades, mas isso não é algo ruim, visto que o enredo é que foi o carro-chefe da produção. Direção de arte e fotografia complementam com louvor o trabalho estético e criativo da série.

 

 

Mas quem brilha é mesmo Juliana Paes. Deixando de lado a caracterização (dezoito anos se passaram e a personagem continuou exatamente com o mesmo visual), Juliana encontra em Liana uma das melhores personagens de sua carreira. E olha que estamos falando de uma atriz que possui personagens grandiosos em sua trajetória estrelar. Incomoda perceber que os personagens ao seu redor simplesmente não a respeitavam, fazendo o que bem entendiam sem se importar com seus sentimentos, fazendo tudo ser sobre eles. Incomoda ainda mais a passividade da personagem em não botar um basta e se posicionar, sobretudo em relação a amiga (Martha Nowill, com aproveitamento aquém do que merece), a mãe (Jussara Freire, em ótima participação) e Oscar (Felipe Abib, brilhando em cena). Paes está contida, firme, segura, crível e apaixonante.

Os atores ao redor de Juliana, Vladimir Brichta e Palomma Duarte também entregam ótimas performances. Vladimir dá nuances ao Pablo, caminhando com o público por diversas sensações, sem soar caricato. Se há credibilidade na reviravolta no meio da trama (ótima, mas um tanto abrupta, talvez), muito é por conta de sua firmeza e segurança na interpretação. Palomma demora um pouco para ter grandes cenas com a sua Sílvia, mas felizmente isso acontece com mais presença e personalidade na segunda metade da série. Felizmente, pois Palomma é uma atriz excepcional para ser desperdiçada em cena. Sentimos falta de sua personagem – e de seu núcleo, ótimo, contando também com João Vitti e Vitor Valle/Bento Veiga – terem um desenvolvimento maior.

Série ou novela, “Pedaço de Mim” provou ser uma das melhores produções brasileiras da Netflix. Um acerto da plataforma. Esperamos que isso abra portas para o serviço assumir de vez a carapuça de “novela” e produzir obras genuinamente deste gênero tão amado pelos brasileiros. Tirando “Pedaço de Mim” como exemplo, é possível ver que a investida daria certo!

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