Lançado em maio de 2024, Meu Sangue Ferve Por Você revela logo de início sua proposta: aposta alto na extravagância e no carisma vibrante de Sidney Magal, sem se prender ao formato clássico das cinebiografias brasileiras. Diferentemente de títulos como Minha Fama de Mau, Simonal e Tim Maia, o longa abandona o percurso tradicional de ascensão artística e joga o espectador diretamente no auge da popularidade do cantor – estabelecendo um ritmo dinâmico já nos minutos iniciais.
Sinopse
Meu Sangue Ferve Por Você acompanha Sidney Magal já consagrado, vivendo o ápice de sua fama no final dos anos 1970. A narrativa segue o romance entre Magal e Magali, sua companheira na vida real, enquanto o cantor lida com os bastidores de sua carreira, o assédio do público e as demandas de sua equipe. O filme mistura momentos de sua vida pessoal com apresentações marcantes, trazendo o exuberante universo de Magal para o centro da história.

A crítica
O que mais diferencia o longa dirigido por Paulo Machline é o foco: o centro gravitacional aqui é o romance afetivo, não a trajetória profissional. Magali deixa o posto de coadjuvante e assume protagonismo, tornando o desenvolvimento do namoro a espinha dorsal da trama. Os conflitos relacionados à carreira e à relação com o empresário surgem, mas funcionam como pano de fundo, o que torna o olhar do filme mais leve, íntimo e envolvente.
O longa também merece destaque pela escolha de linguagem visual e sonora. Machline flerta com o universo dos musicais norte-americanos e da Broadway. Embora sejam poucos os números musicais que suspendem a realidade, todos surpreendem pela originalidade e contribuem para uma atmosfera espetacular — uma aposta rara e corajosa no cinema musical brasileiro, que normalmente mantém a música em um registro absolutamente realista e diegético.

No elenco, Filipe Bragança propõe um Magal mais ingênuo e juvenil do que aquele ícone viril e sensual das décadas de 1970/80. Seu desempenho corporal e vocal aposta em um romantismo sincero, criando um protagonista sensível. Giovana Cordeiro, como Magali, completa esse par com leveza e naturalidade; a química entre eles é evidente e fundamental para o sucesso da proposta. Caco Ciocler brilha em um dos momentos musicais mais marcantes, enquanto Emanuelle Araújo é pouco aproveitada, tendo certo destaque apenas na cena pós-crédito. Os coadjuvantes Sidney Santiago, Sol Menezzes e Pablo Morais equilibram bem a narrativa, embora seus personagens soem maniqueístas em alguns momentos.
Visualmente, a produção acerta na construção do universo de Magal. A direção de arte e os figurinos capturam a essência exuberante do artista, enquanto a fotografia amplia essa aura de espetáculo. A sensação é de assistir a uma cinebiografia que faz justiça ao espetáculo que Magal sempre representou, sem perder, contudo, o toque de encanto próprio de um romance que atravessa décadas.
Impressão final
Meu Sangue Ferve Por Você foge do comum ao focar no afeto e na teatralidade. Seu destaque está na originalidade visual e no frescor musical, ainda que o roteiro pudesse aprofundar melhor certos conflitos.
