Nada melhor que comédias românticas para se distrair e se apaixonar por histórias leves e divertidas em tempos tão pesados, não é? “Desjuntados”, a série da Prime Vídeo que estreou no dia 01 de outubro, cumpre bem essa proposta. Não tendo grandes pretensões, os sete episódios da trama criam um universo aconchegante e nos leva para dentro do relacionamento do casal protagonista. Ou do fim do relacionamento, no caso.
É pertinente se perguntar se tal identificação tão rápida do público não se dá pelo fato de a história ser mais um dos muitos clichês presentes nas comédias românticas estado-unidenses. Mas, ainda que seja (eu discordo um pouco), isso não tira o mérito e a qualidade da produção tupiniquim, pois, afinal, o sucesso de tais filmes está justamente nestes clichês, que atendem às idealizações românticas do espectador que os assiste. O clichê aqui, portanto, não é um problema, mas uma solução. Por fim, o pontapé inicial de Desjuntados, na verdade, segue um caminho inverso ao da maioria dos filmes do gênero: enquanto geralmente as histórias partem de um interesse romântico, caminhando até a chegada da sua consumação, a série do Prime Vídeo já começa no fim, com o casal principal lutando para se separar um do outro, para não serem mais um casal.
Embora sejam tipos de comédias completamente diferentes, a temática principal desta série escrita por Dani Valente e Mina Nercessian lembra, de longe, o universo de Toma Lá Da Cá, série criada por Miguel Falabella em 2007. Ambas as produções falam sobre uma nova classe média que, deslumbrada por ter acesso a uma vida mais promissora, se muda para um apartamento em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca (situação muito conhecida e até motivo de piadas na história carioca recente). Ainda que felizes com a nova realidade e a conquista financeira, o principal desenrolar das duas tramas é justamente o desconforto entre os protagonistas que, em Toma Lá Da Cá são ex-casais morando porta com porta no mesmo andar do condomínio “Jambalaya Ocean Drive” enquanto em Desjuntados, o ex-casal protagonista tem que dividir o mesmo teto no condomínio “Ocean Waves”.
Mesmo levando em consideração as particularidades inerentes aos subgêneros das produções (uma é uma sitcom, mais escrachada, e a outra uma comédia romântica, mais contida), Desjuntados apresenta uma certa carência na exploração daquele novo universo, dos vizinhos e do condomínio em si. Isso não chega a ser um erro da série, sendo mais para uma possibilidade de ampliação pouco acessada, que poderia ter acrescentado mais à trama, sobretudo em comédia (sua fraqueza). Exemplos disso são as boas participações de Letícia Isnard e Marcelo Laham (que praticamente somem na segunda metade dos episódios), as engraçadas participações rápidas das amigas do trabalho de Camila e as cenas do personagem Esquilo (Mateus Macena), um funcionário do condomínio que só ganha a tela nas transições de cena, sem nenhuma fala e ao som da ótima música-tema do condomínio. Suas sequências, quase como uma outra série acontecendo dentro daquele mesmo universo, são uma delícia de assistir e prendem a atenção.
Letícia Lima e Gabriel Godoy funcionam muito bem juntos em cena. A produção – tanto a parte técnica quanto artística – é ótima. Uma direção inteligente e uma montagem muito bem realizada, somadas às cores e a direção de arte que, ainda que contida, dá uma atmosfera muito particular à série.
A relação confusa entre Camila e Caco e o desfecho do casal (ou ex-casal) deixa margem para uma segunda temporada. Embora em processo de divórcio, é visível o grande carinho que um tem pelo outro, e isso nos fazer torcer por um reatar da relação na mesma intensidade que pensamos “é, realmente não existe mais um casamento ali”. Ágil, sensível, apaixonante, bem produzida e (levemente) engraçada, Desjuntados é uma ótima pedida para aqueles que procuram um entretenimento nacional leve e bem feito.