Crítica | Terceira e última temporada de “Bom dia, Verônica”

Bom dia Verônica

Estreou no último dia 14 de fevereiro a terceira e última temporada da série “Bom dia, Verônica”, da Netflix. Sucesso desde a sua primeira temporada, em 2020, a série teve seu número de episódios diminuídos ano a ano, causando descontentamento em muitos fãs: foram 8 episódios na primeira temporada, 6 na segunda e apenas 3 na terceira.

Não é a primeira vez que a Netflix faz isso. “Cidade Invisível”, outro título de bastante sucesso na plataforma – talvez sejam estes os dois maiores sucessos internacionais do streaming, na verdade –, também foi encerrada com apenas 5 episódios.

A terceira temporada de “Bom dia, Verônica” veio para concluir a trajetória da protagonista muito bem defendida por Tainá Muller. Com o fim da série, entendemos que os verdadeiros vilões da trama representam o conservadorismo e fundamentalismo brasileiro, o famoso “BBB”: Bala (Brandão, sargento, na 1ª temporada), Bíblia (Matias, pastor, na 2ª) e o Boi (Jerônimo, fazendeiro, na 3ª). Trazer tais representações, ainda que não diretamente, foi uma ótima sacada da equipe de roteiristas.

Mas, enquanto a segunda temporada poderia ter aproveitado mais o tempo dos episódios, tendo poucos eventos para “muitos” episódios, esta temporada sofreu do problema oposto: muitos eventos para poucos episódios. A forma como Verônica conhece, se aproxima e descobre sobre o grande vilão é um emaranhado de conveniências do roteiro, para chegar logo onde interessa. Em diversos momentos o espectador se pega com a sensação de que Verônica teve tanto cuidado por tanto tempo, para tudo ser jogado fora nesta temporada.

 

Elenco

Rodrigo Santoro foi a grande adição ao elenco. Preciso e detalhista, a construção de seu personagem foi engrandecedora em se tratando de uma temporada que somados os episódios teve menos de 3h de duração. Santoro manteve o nível alto já estabelecido por Du Moscovis, na primeira temporada. A outra adição da temporada, Maitê Proença, belíssima em cena, trouxe uma personagem rica e teve bons (embora poucos) momentos. Klara Castanho e a protagonista, Tainá Muller, mantiveram o ótimo nível das temporadas anteriores, trazendo personagens complexas e interessantes de assistir – sobretudo a primeira. Reynaldo Gianecchini, apesar de ser o grande vilão da segunda temporada, tem aqui a sua melhor cena na série. A coreografia e a direção do grande embate entre irmãos foi o ponto alto dos episódios.

 

A evolução (?) da série

Importante falar sobre o tom adotado pela direção, pois, é aqui que está um dos pontos mais controversos da série como um todo. O que podemos observar com o fim da obra, foi um caminho de transformação de atmosfera e quase de gênero, com pouco espaço para estabilização e aprofundamento das temáticas. Se na primeira temporada temos uma trama policial com elementos sombrios e misteriosos, na terceira já estamos de frente para uma espécie de thriller psicológico, com uma pitada de distopia, e chegando a doses de conspirações e manipulações biológicas para o melhoramento da espécie humana. A trama policial perde espaço. A cena final, de tão deslocada, parece um surto.

Não há problema quando uma série transforma a sua atmosfera ao passar das temporadas. Aliás, não é raro isso acontecer e, quando se tem um desenvolvimento gradual, é bastante compreensível. “Bom dia, Verônica”, porém, acaba transformando a sua temática sem termos tempo de recebermos bem tais transformações. O espectador tem a estranha sensação de “Aonde isso vai chegar?”. Dizer que a terceira temporada flerta com “The Handmaid’s Tale” e mesmo com HQs de super-heroínas parece muito distante do que vimos no início da série. Parecem séries diferentes. Um problema se pensarmos que estão separadas por apenas 6 episódios.

Porém, não há dúvidas de que o saldo deixado pela série é positivo. Ainda que traga tal transformação de maneira relativamente abrupta, a série escrita por Raphael Montes e Ilana Casoy segue sendo uma das melhores da Netflix. Uma pena o visível desinteresse da plataforma em investir mais na série. Com uma melhor condução e respiro na história, a série alcançaria voos ainda mais altos.

 

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