Produzida no momento certo, Aruanas é uma série dramática com nuances de suspense sobre uma ONG que combate entidades e empresas que destroem o meio ambiente e, em consequência, a saúde de populações locais. Política, necessária e extremamente atual, a segunda temporada se aprofunda ainda mais na ficção, elevando o nível da dramaturgia em relação à primeira fase. O descaso histórico do Brasil com seus recursos naturais salta aos olhos, e Aruanas se torna essencial ao expor, por meio da ficção, uma realidade próxima de todos nós.
Sinopse
Na segunda temporada de Aruanas, disponível no Globoplay, a ONG liderada por Luíza (Leandra Leal), Natalie (Débora Falabella) e Verônica (Taís Araújo) investiga graves problemas de poluição do ar na cidade fictícia de Arapós, interior de São Paulo. Conhecida por aparentar sustentabilidade e progresso ambiental, Arapós esconde crimes ambientais como a emissão de gases tóxicos e o aumento de casos de más-formações congênitas. Para denunciar as verdades ocultas, integrantes da ONG se infiltram na comunidade enquanto lidam com interesses econômicos, corrupção local e ameaças diretas. Conflitos pessoais entre as protagonistas também afloram, tornando a luta ambiental ainda mais perigosa e necessária.
A crítica
Aruanas, desde a estreia, constrói com competência o suspense dramático ao redor dos ativistas que lideram a ONG. A segunda temporada aprofunda seus temas, ressaltando como o abandono e a exploração dos recursos naturais brasileiros seguem presentes, principalmente nos anos recentes.
A criação e ambientação da cidade de Arapós são, sem dúvida, o maior acerto da temporada. O suspense, sempre presente na série desde a primeira cena da temporada anterior, ganha intensidade com essa nova ambientação sombria. Os próprios criadores, Estela Renner e Marcos Risti, definem a história como “thriller ambiental”. Arapós, marcada por tragédias históricas, hoje se vende como cidade-modelo, referência de cuidado ambiental e orgulho local. Porém, esconde graves denúncias: poluição intensa, emissão de gases tóxicos e, como resultado, má-formação em fetos e deficiências em crianças, tudo encoberto até mesmo dos próprios moradores.
Crítica detalhada de Aruanas
Nesse contexto de segredos e tensão constante, as Aruanas infiltram os ativistas Clara (Thainá Duarte) e Pontocom (Ravel Andrade) como um casal evangélico recém-chegado, o que confere à investigação um toque de suspense ainda mais envolvente, pois tudo em Arapós parece feito para resistir a qualquer tentativa de exposição. Enquanto isso, os conflitos pessoais entre as protagonistas, deflagrados por acontecimentos da temporada anterior, seguem intensos. O afastamento entre Verônica (Taís Araújo) e Natalie (Débora Falabella) se faz sentir principalmente nos dois primeiros terços, com Taís ganhando protagonismo apenas na reta final. Por sua vez, Leandra Leal e Débora Falabella sustentam a narrativa em ótimas atuações, conduzindo sozinhas a ONG nos momentos de maior pressão.
Camila Pitanga ganha novas camadas ao explorar seu envolvimento amoroso com Ivona (Elisa Volpatto). Mesmo que essa relação prenda o público, suas melhores cenas ficam reservadas aos capítulos finais, quando Olga finalmente se conecta à trama principal. O fortalecimento do elenco é um diferencial desta temporada, com entradas marcantes: Lázaro Ramos como o prefeito Enzo, envolto em dúvidas sobre sua real posição; Daniel de Oliveira como Théo, o aliado idealista cheio de conflitos internos; Rafael Losso como pai de uma criança afetada pela poluição; além de uma participação de Lima Duarte e um grupo de moradores (com César Ferrário, Luciana Paes, Leonardo Medeiros e Bella Piero) que ajudam a tornar Arapós um espaço tão envolvente quanto inquietante.
Crítica detalhada de Aruanas
Seguindo o padrão da primeira temporada, os episódios finais são ágiles, eletrizantes e emocionalmente densos. A morte de um ativista traz uma virada dramática: é impossível não sentir a urgência da trama, já que situações similares atravessam o noticiário real. Por isso, as sequências de Leandra Leal após o crime estão entre as melhores atuações da atriz na série, capturando a revolta e a dor de quem vê tudo de perto. O roteiro, aliás, dialoga de forma contundente com questões contemporâneas: medidas provisórias que favorecem empresas, ataques legislativos a ONGs ambientais, investimentos revestidos de pura exploração e o assassinato de ativistas como estratégia de silenciamento.
No entanto, o texto foge do panfletarismo: todos esses temas aparecem na trama de forma orgânica e inquietante, equilibrando denúncia social com drama político. Mesmo tratando de pautas urgentes e delicadas, Aruanas constrói uma ficção envolvente e madura. O resultado é uma série que se destaca não só pelo valor artístico, mas sobretudo pela urgência de sua mensagem e pela capacidade de refletir o Brasil atual com inteligência, coragem e entretenimento.
Impressão Final
Com enredo robusto, suspense envolvente e contexto social urgente, Aruanas afirma sua posição entre as melhores séries da Globoplay. A produção mergulha fundo em temas ambientais e entrega emoção sem abrir mão do realismo, equilibrando entretenimento com relevância.
Nota: 4 de 5