Crítica: “Viva a Vida” acerta no drama familiar e emociona com leveza

Filme "Viva a Vida"

O Brasil sabe fazer rir. E o amor, dizem, é universal. Unir esses dois elementos parece a receita perfeita para um sucesso constante das comédias românticas por aqui. Mas, curiosamente, o gênero nunca deslanchou com a força que deveria.

É claro que existem exceções bem-sucedidas, como Meu Passado Me Condena (2013), Loucas para Casar (2015), S.O.S. Mulheres ao Mar (2014), entre outros. Mas repare: esses filmes se aproximam mais da ideia de “comédias que falam sobre casamentos ou superação” do que de histórias realmente centradas na construção de um casal apaixonado. O romance, geralmente, não é o foco. A paixão, tampouco.

Nos últimos anos, no entanto, surgiram alguns títulos que conseguiram equilibrar melhor humor e amor, como Ricos de Amor (2020) ou Evidências do Amor (2024). Viva a Vida surge nessa mesma esteira, mas com alguns desvios de gênero. Aqui, o drama familiar assume o protagonismo. Ainda há os elementos clássicos de comédias românticas – o casal que se conhece, se aproxima e, aos poucos, se apaixona – mas, na prática, o filme parece querer falar de outra coisa.

Sinopse

Viva a Vida acompanha a história de Jéssica (Thati Lopes), uma jovem que se vê sozinha desde a infância. No pior momento financeiro de sua vida, ela descobre que tem avós vivos em Israel. Movida por esse fio de esperança – mais em conseguir uma herança do que em realmente retomar laços familiares -, decide viajar ao país em busca dessa nova família. Ao chegar, no entanto, descobre que a avó abandonou o avô. Com a ajuda de Gabriel (Rodrigo Simas), Jéssica embarca numa jornada ao lado do avô (Jonas Bloch) em busca da avó fugitiva.

 

A crítica

O roteiro propõe uma espécie de road movie. Jéssica, Gabriel e o avô (que ainda não sabe do parentesco) percorrem locais marcantes de Israel. É justamente aí que reside a principal qualidade do filme. A ambientação, raramente explorada no cinema brasileiro, é conduzida com respeito, admiração e sensibilidade estética. A direção de Cris D’Amato acerta ao usar a paisagem como aliada narrativa – mesmo que a fotografia pese um pouco no filtro “terroso” em algumas cenas.

Thati Lopes entrega uma personagem equilibrada, competente tanto no drama quanto no humor, além de funcionar nas raras cenas românticas. Sua química com Rodrigo Simas é o que nos faz gerar algum interesse pelo casal, que, com atores menos carismáticos, dificilmente teria salvação. Enquanto Jéssica carrega o protagonismo com naturalidade, Gabriel é um personagem mal introduzido e pouco desenvolvido. Embora Simas esbanje carisma, está preso a um personagem limitado. Subtramas como a da ex-namorada e da mãe se tornam descartáveis. Até poderiam enriquecer sua jornada, mas acabam sendo apenas artifícios de introdução do personagem, sem continuidade.

Quem realmente se destaca é Jonas Bloch. Depois de anos em participações menores no cinema, ele ganha aqui um papel com boa construção e momentos emocionantes. A química com Thati e Simas funciona muito bem. Regina Braga, embora com menos tempo de tela, tem uma presença magnética.

Crítica detalhada de Viva a Vida

O romance maduro entre os avós acaba sendo mais interessante que o dos protagonistas jovens, aliás. A vitalidade de ambos reforça uma das mensagens mais bonitas do filme: pessoas com mais de 60 anos ainda têm muito a viver, a se arriscar e a se apaixonar. Uma mensagem que se estende para além do longa, ao lembrar o quanto o cinema brasileiro ainda subaproveita seus artistas 60+.

O roteiro de Natália Klein, no fim das contas, é funcional. Certas conveniências são difíceis de acreditar, como a prisão por nudez em um país conservador, resolvida de modo improvável pelo dono da agência de turismo, que conhece o delegado local e providencia a libertação dos protagonistas de maneira quase infantil. Ou o fato de Jéssica ocupar o palco principal de uma cerimônia de bat mitzvah de uma desconhecida (que fica na plateia com a família), apenas para criar uma cena fofa entre os três. Há pontos pouco explicados: de onde surge o novo veículo após o grupo deixar o ônibus? Qual o propósito da caminhada com os camelos? Por que eles surgem e desaparecem do nada? Mas, como bem diria Glória Perez: “é preciso voar”. E, para o que o filme se propõe, uma comédia leve, esses voos são, até certo ponto, toleráveis.

Viva a Vida deixa um saldo positivo para o gênero. O humor brasileiro, bem dosado, e o drama familiar estruturado garantem uma experiência afetuosa. Cris D’Amato e Natália Klein souberam equilibrar emoção e leveza, sem cair na comédia escrachada que força gargalhadas a todo custo.

 

Impressão Final

Um filme leve, com alma, que acerta mais do que erra. Emociona com delicadeza, diverte sem apelar e nos lembra que afeto e redenção cabem em todas as idades – inclusive no cinema brasileiro.

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